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IV-Meu pai comprou um terreno. Nascia um agricultor familiar socioambientalista apaixonado e voluntário (Quarta parte)

Todas às segundas, quartas e sextas feiras (inclusive feriados), ininterruptamente e após a escola, lá ia eu, dirigindo pelas ruas da cidade, aquele tratorzinho esquisitinho, que parecido ter vindo de Marte. Objetivo: ajuntar lavagem para engordar porco. 

Fiz isso até 1970. Em 1971, matriculei-me no “cursinho” em São Carlos/SP, para o famoso e concorrido vestibular MAPOFEI, da década de 70. 

Nos meus deslocamentos semanais pela cidade, para ajuntar a lavagem, ouvi muitas vezes, algumas piadinhas “inocentes“, que tinham tudo para humilhar e jogar-me para baixo. Mas, na verdade, impulsionaram-me para cima!!!!
-Ei, tá levando a janta?
-E a comida? Vai dar pra todo mundo?
-Tá quentinha? Boa para comer?

Nunca, jamais, contei isso para meu pai ou para qualquer outra pessoa. Somente em 2010, quando desembarquei no Havaí, como turista, e ao emocionar-me subitamente, contei esse fato, pela primeira vez na vida, para minha esposa, Meirinha. Agora conto pra todo mundo, sem constrangimentos e sem mágoa alguma, como incentivo à superação.
“Tu, Oh!! SENHOR, conservarás em perfeita paz, aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti”. Isaías 26:3.

Foi o que eu fiz, confiar e seguir, caminhar e voar, porque estava trabalhando honestamente. Não estava fazendo nada de errado. Não tinha do que me envergonhar!! E você, leitor, faria este trabalho??!! 

Expliquei que chorava de emoção, e disse-lhe que estar no Havaí, para surfar, hospedado em hotel 5 estrelas, tornava feliz e realizado, o menino de Porto Ferreira, que ajuntava lavagem para engordar porco, e que frequentemente ouvias as piadinhas:
-Ei, tá levando a janta?
-E a comida? Vai dar pra todo mundo?
-Tá quentinha? Boa para comer? 

Nunca tive raiva de ninguém e nunca guardei mágoas. Até agradeço àqueles que tentaram constranger-me, porque na verdade, deram-me razões para avançar, “voar” alto, e vencer na vida. Em vez de afundar-me no precipício da humilhação, alcei grandes alturas de realizações pessoais. Agradeço a tod@s por me motivarem, e hoje, gosto muito de identificar-me como: Varão guerreiro, da tribo do Leão de Judá “. 

Estas pessoas, ajudaram a florescer em mim, um traço de minha personalidade, que é a “obstinação“. Vergo mas não quebro!!
“Não há que ser forte. Há que ser flexível”. Provérbio chinês. 

Criei até um roteiro de vida para nortear-me, e que será meu epitáfio (Pretendo escrever sobre isso também):
“Amar. Trabalhar. Estudar. Orar. Praticar esportes. Cultivar as artes. Prosperar. Com Jesus…” .

Aproveito a oportunidade para agradecer “in memoriam“, a Elvis Presley pelo filme da década de 60 “Feitiço Havaiano“, que me inspirou, aos 10 anos de idade, um dia, a conhecer o Havaí.
Sonho realizado!!! 

Queria ser Engenheiro Mecânico e dedicar-me ao desenvolvimento de máquinas e implementos agrícolas para o pequeno produtor rural.

Surpreendentemente, no dia do meu aniversário em 1968, meu pai devolveu-me um cartão (seria um protótipo de personal card), que eu tinha escrito por brincadeira, em papelão recortado de caixa de sapatos. Escrito quando tinha uns 10 anos de idade, e que ele tinha achado e guardado.

Hoje, sou Engenheiro Mecânico (EESC-USP), Professor Titular (UFLA) MSc e DSc, aposentado e Extensionista Voluntário do Departamento de Engenharia Agrícola (DEA) da UFLA.

Alcançar a “Classe de Professor Titular“, com créditos acadêmicos predominantemente oriundos da Extensão Universitária, foi uma vitória sem precedentes para a própria Extensão Universitária, e para mim, evidentemente!! Sonho realizado!! 

Sou o primeiro professor da história da Escola Agrícola/ESAL/UFLA, a receber o título de “Prof. Dr. Honoris Causa” de uma universidade estrangeira (ULPGL-Universidade Livre dos Países dos Grandes Lagos, de Goma, República Democrática do Congo, África). Sonho inesperado!!

Bem casado, tenho dois filhos. Realidade maravilhosa!!

Plantei muitas árvores e escrevi um livro técnico, profissionalizante, para Engenharia Agrícola: Elementos orgânicos e fundamentais de máquinas e implementos agrícolas“.
TAVARES, G. (2. ed., rev. e ampl. Lavras: Ed. UFLA, 2014. 259 p). 

Este livro está disponível como e-book no RI/UFLA, e para minha felicidade é acessado no mundo inteiro, mesmo editado em português.
http://repositorio.ufla.br/jspui/handle/1/12576 . Sonho realizado!!

E as árvores??!! Acessem:
Reserva Permanente do Patrimônio Natural (RPPN)-IcBio“.
http://sistemas.icmbio.gov.br/simrppn/publico/detalhe/519/

RPPN-Plano de Manejo (Example of “Carbon Wells”-portuguese)”: http://repositorio.ufla.br/handle/1/12597 . Sonho realizado!!

Em tempo. A égua Boneca pariu um potrinho, com um defeito no mínimo curioso: ele batia as pernas traseiras, uma contra a outra, quando andava. Se corresse, a bateção das próprias pernas o derrubava. O trator, máquina, ganhava então, em esquisitice, um concorrente animal.

A égua passou a ser usada apenas para minhas cavalgadas e incursões pelo Vale Encantado. Revejam: Dialogando com meu cavalo“.
https://www.agazetadelavras.com.br/dialogando-com-meu-cavalo/

E o potro, nomeado “Dexaqueeuchuto“, era apenas motivo de chacotas e de um incontável número de apelidos jocosos. Tadinho…mas como parecia que tinha tomado um “porre” daqueles, então…Dexaqueeuchuto.

Ele foi ficando por lá, uma vez que ninguém queria comprar aquela coisinha estranha, que mais parecia um alienígena, e não servia absolutamente, para nada. Mas era danado de simpático e bonitinho…ficou até morrer. Morreu cedo, bem tratado, morreu feliz!!! 

Algum tempo após minha ida definitiva para São Carlos (passei no vestibular), meu pai vendeu a chácara e nunca mais pisou naquele solo, e nem eu. Seria exigir demais para nossos corações. Em 1977, ele faleceu aos 54 anos de idade. Saudades!!! 

Dos 9 aos 17anos, tinha vivenciado dioturnamente, aquele pequeno paraíso. Meu pequeno mundo…Restaram lembranças, recordações e o despertar do agricultor familiar voluntário, socioambientalista, e agora, pretenciosamente, tentando ser cronista. Paciência, meu povo!!

E por ser como o bambu, que verga mas não quebra, creio ser oportuno narrar também, a divertida incursão de meu pai, na área de alimentação animal, especialmente suínos.

Ele tinha um amigo chamado Zé Scatolin, que possuía uma padaria próxima ao “Ginásio Industrial“, onde trabalhava. Todos os dias, após o expediente, meu pai ia à padaria tomar um cafezinho e papear as novidades, com o Zé Scatolin. 

Aconteceu que, ele observou que os funcionários da padaria varriam, constantemente, o piso da área de produção de pães. E o material varrido era praticamente apenas farinha de trigo, que havia caído no chão. Depois, ensacava-se, para não esparramar mais, e tudo era jogado no lixo. 

Então, veio a “brilhante ideia pró alimentícia animal”: em vez de jogar no lixo, dê-me este material, que eu vou aproveitá-lo melhor, na minha chácara, para meus porcos.

Fizemos a primeira experiência: diluímos em água, a farinha rejeitada, e demos aos porcos. Foi uma farra… Os porcos quase se mataram em competição, para comer (beber) a “minestra“. 

Pronto, tínhamos descoberto um reforço para alimentação da porcada, e principalmente, gratuito!! E eu ganhei mais uma missão: buscar periodicamente, farinha de barrição, na padaria do Zé Scatolin, para fazer mingau para porcos. Ficava branquinho…

Creio que em toda história da suinocultura mundial, jamais alguém alimentou porcos com mingau de farinha de trigo!! Será??!! 

Albert Einstein dizia que:Os maiores cientistas também são artistas“.
Creio que os melhores pais são também artistas, e um dia, meu pai apareceu com o dono de um trator de esteiras e mostrou lhe que era possível construir-se nosso próprio laguinho, inclusive com uma ilhota vegetada pela moita de bambu que ele apontava, a partir da remoção de uma das margens do Corguinho. Eu só fiquei olhando…Minha nossa!!! O que vem por aí??!! 

Incrível!! Sob orientação de meu pai, o trator foi removendo a margem inferior do Corguinho, circulando a moita de bambu. A terra removida formou o contorno do aterro do futuro laguinho. Em cinco dias de trabalho, tínhamos nosso próprio laguinho, com um ilhota no centro, vegetada com a moita de bambu. 

Em seguida, ele construiu uma pequena ponte de madeira (uma pinguela bonitinha), que unia a margem superior do Corguinho, que não tinha sido afetada pela remoção de terra, com a ilhota.

Ficou lindo, lindo, lindo…Pai, você será sempre assim…meu querido velho!!! (Já sei, já sei:velho é trapo).

Impressionante como se aplica aqui, uma música do Roberto Carlos, para o pai dele. Rigorosamente, é a música que eu dedico ao meu pai:
Meu querido, meu velho, meu amigo“.
https://www.youtube.com/watch?v=cXFiNiesmgY

Cortamos bambus (existiam em abundância na área). Picamos as varas de bambu cortado em pequenas estacas de aproximadamente um metro de comprimento. Em uma das extremidades das estacas, com facão, fizemos uma ponta aguçada. A outra extremidade da estaca tinha que ser, obrigatoriamente, um nó do bambu, que aguentaria facilmente, pancadas de martelo. 

Fincamos as estacas, lado a lado, juntinhas, em todo o perímetro interno do aterro que formava a margem do laguinho. Ficou uma “cerquinha de bambu” lindíssima. O laguinho parecia estar contido dentro de uma enorme bacia com paredes de bambus, uniformemente estaqueados. Tínhamos construído, um pequeno “Jardim do Éden“. 

“Sou artista o suficiente para usar minha imaginação livremente. A imaginação é mais importante do que o conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação envolve o mundo”. Albert Einstein. 

Na próxima semana, continuaremos o assunto. Aguardem!!!

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