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Uma funcionária chamada Neuza

Por acréscimo de misericórdia divina, nesta minha vida, tenho conhecido e convivido com pessoas impressionantes. Verdadeiras bençãos!!

Poderia começar escrevendo sobre minha família natural: pais, irmãos e todos os demais parentes diretos e indiretos, mas isso requer um capítulo especial, e breve o farei. E já aviso que, escrever sobre meus pais e irmãos, é na verdade, falar de gratidão em tempo integral e dedicação exclusiva. 

Poderia escrever sobre minha família constituída: Meirinha, João Neto e Toninho, mas isso requer apoio de algum pensador muito erudito, ou mesmo de algum anjo-da-guarda escritor, porque eles são lindos demais e eu ainda não encontrei palavras adequadas para descrevê-los, verdadeiramente. Gratidão pela vida de cada um deles!! 

Na verdade, sinto-me apenas como um mísero inseto voando em torno de uma magnífica lâmpada acesa, e portanto, jamais serei lâmpada ou luz, mas, apenas inseto. Todavia, mesmo assim, obstinadamente, pretendo encontrar as palavras ideais em algum compêndio filosófico que sintetize o amor, e assim, escrever de coração para coração, para meus prezados, queridos e amados. 

Contudo, hoje, vou escrever sobre uma funcionária dos serviços gerais de limpeza do Depto de Engenharia Agrícola da UFLA, antigo Depto de Engenharia, e que se chamava Neuza (já falecida).

Começarei, lembrando-me de que sempre tive o hábito de chegar mais cedo ao trabalho, tanto é que, jamais me atrasei em minhas aulas, nos quase quarenta anos de magistério superior, na ESAL/UFLA. 

Aproveito a oportunidade para lembrar e homenagear o saudoso Prof. José Otávio de Souza, nosso querido Casca, que tinha o mesmo hábito, porém, sempre chegava mais cedo que eu. Na verdade, se eu amanhecia, ele madrugava. Gratidão por ter conhecido e convivido com o Prof. José Otávio, o estimado Casca. 

Outro hábito que conservo até hoje, é aquele de cumprimentar a tod@s @s funcionári@s e servidor@s dos escalões de apoio. Aqui na UFLA, são @s secretári@s, @s serventes da limpeza em geral, varredor@s, jardineir@s, vigilantes, braçais e outr@s. Que seria de nós, sem el@s?! Gratidão a tod@s!!!

Assim, toda manhã, quando chegava ao DEG, hoje DEA, a Neuza já estava em frente a entrada principal do Depto, segurando vassoura, rodo, balde, alguns panos de limpeza, e, invariavelmente, com um largo e generoso sorriso, de canto a canto da boca.

-Bom dia!! Neuza.
-Bom dia Professor!!
-Professor, o chazinho e o café estão prontinhos. Já pode tomar.
-Obrigado Neuza, tô indo tomar o chazinho.Tá “ungido”, né?!
Ela sorria, porque eu, costumeiramente, pedia e aprovava a unção dos alimentos, por parte dela. 

A Neuza era fiel membro de uma igreja pentecostal muito popular, e possuía o generoso hábito de abençoar os alimentos que preparava ou tocava. Na sua singeleza, ela era respeitadíssima por tod@s, devido à sua capacidade materno/fraternal de acolher e aconselhar pessoas. 

Chegamos até formar um grupo ecumênico de orações, que se reunia uma vez por semana, por 20 minutos no horário do almoço, no galpão de máquinas agrícolas do Depto. Eu me emocionava ao ver aquela gente tão humilde, abrir mão de parte do tempo do próprio horário do almoço, para orar e dar graças. Que momentos magníficos. Gratidão Senhor!! 

Cabia a mim, apenas abrir a reunião e ler um trecho do Evangelho. Em seguida, passava a palavra para a Neuza, que orava com tamanho fervor, que o teto parecia se abrir, para permitir o céu derramar torrentes de luzes sobre tod@s nós!! Nestes instantes, cumpria-se as Escrituras:
“Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”.
(Mat. 11×25). 

Confesso que as orações de sábios e dos entendidos, os tais doutores da lei, mais me irritam do que me convencem. Perdão Senhor!! Mas, normalmente, pronunciam uma xaropada verborrágica de inútil semântica politiqueira. Gostam apenas de fazer bonito com as palavras.
“Raça de víboras! Como podeis falar coisas boas, sendo maus? Pois a boca fala do que está cheio o coração”. Mat 12×34. 

Ao utilizar-se de um vocabulário modestíssimo, porém carregado de caridade e amor ao próximo, a Neuza fazia com que muit@s a procurassem com pedidos de conselhos e orações. Eu, particularmente, encontrava em sua pessoa, a prática do puro e verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo. Nenhuma pompa ou circunstância. Seria ela, um anjo tutelar do Depto??!! 

E assim, um dia, como qualquer outro, ao chegar ao Depto, logo após o generoso bom dia costumeiro, e a referência ao abençoado chá, a Neuza falou-me:

Professor, eu preciso falar uma coisa.
-Ué Neuza, então pode falar, tô ouvindo.
-Eu oro para o Sr. todos os dias. Todos os dias, eu oro para o Sr. e para sua família.
Aquelas frases foram ditas de uma maneira tão sincera, que me emocionei intensamente. Só consegui redarguir:
-Ô Neuza, muito abrigado. E fui ligeirinho para minha sala, esconder minha emoção. 

Na minha sala, contive as lágrimas, respirei fundo, e me envolvi por um imenso espírito de gratidão. Dei graças a Deus pela vida da Neuza, da minha família, do meu trabalho e da UFLA, e pensei:
-Tive uma idéia!! 

Voltei ligeirinho ao Depto. A Neuza estava enchendo um balde dágua, na torneira do gramado frontal do saguão. Disse-lhe:
-Neuza, quero agradecer mais uma vez por suas orações e te pedir mais uma coisa.
-O quê, professor?
– Que você ore pelos meus projetos também.
-Como assim Professor?
-Eu tenho uns projetos em países muito pobres. São projetos contra a fome e a miséria naqueles lugares. Chamam-se Projetos de Extensão Inovadora.

(Expliquei-lhe rapidamente, em linguajar bem simples, sobre o Projeto Vozes da África e Vozes da Ásia, e a visão socioambiental fraternal das propostas).
Para maiores detalhes, acessem:
“Projeto Vozes da África”.
https://www.agazetadelavras.com.br/projeto-vozes-da-africa/

“Projeto Vozes da Ásia: A luta e a saga de uma mulher afegã chamada Nazira Rahman”.
https://www.agazetadelavras.com.br/a-luta-e-a-saga-de-uma-mulher-afega-chamada-nazira-rahman/

Quero combinar com você, o seguinte:
-Toda vez que eu escrever alguma coisa sobre os projetos, quero que você abençõe o documento, assim como você unge o chá. Tá bom?!
-Mas professor, quem sou eu para fazer isso?! Eu sou simples servidora dos serviços gerais de limpeza do Depto!! Nem estudo eu tenho!! 

Naquela hora, tive imensa vontade de explicar, que na verdade, ela era MSc, DSc, PHd, Honoris Causa, em fraternidade universal, e eu, com todos os meus títulos acadêmicos, não era nada perante ela. Mas preferi não constrangê-la e disse-lhe simplesmente:
-Você pode fazer este favor? 

A partir daquele dia, toda vez que redigia alguma coisa referente aos projetos, pedia a Neuza para dar uma passadinha na minha sala, assim que fosse possível, e orar sobre o documento.
Informo que nunca, jamais, prejudiquei os afazeres da Neuza, porque ela só ia à minha sala, quando possível, e muito rapidinho. 

Nestes instantes, ela punha uma de suas mãos no meio na tela do computador, que estava com o documento em aberto, levantava a outra mão ao céu, e orava rapidinho, porém, fervorosamente, pelo sucesso dos objetivos exarados. 

Informo que, todos os projetos deram e estão dando certo. Todos os obstáculos foram derribados. Venceram-se enormes dificuldades para implantação e gerenciamento.

Portanto Neuza, você faz parte desta história. Você é uma das responsáveis pelo sucesso!! Gratidão!! Imensa gratidão!! 

Quando a Neuza faleceu, não tive coragem de me aproximar do corpo exposto no necrotério do cemitério municipal. Fiquei de longe. Fiquei pensando. Fiquei lembrando. Fiquei sei lá o quê!!

Não consigo deixar de imaginar a Neuza, agora juntinha com a Sá Dona da crônica anterior. Afinal:
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus…” Mat. 5×3. 

(Acessem as crônicas anteriores, clicando na franja “Blogs e Colunas“, acima do título da matéria atual. Em seguida, pode-se clicar na franja “Próxima página >“, no rodapé da página aberta, para continuar acessando-se mais crônicas anteriores).

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