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COVID-19: a pandemia não acabou

Doutores José Cherem e Joziana Muniz de Paiva Barçante alertam sobre o aumento dos casos e sugerem estratégias para nos mantermos seguros

Nas últimas semanas, temos vivenciado um aumento significativo no número de casos de COVID-19 e de internações no sul do estado, o que acompanha o cenário geral do país.

Somente em Lavras, de acordo com os dados oficiais da prefeitura, em 10 dias, o município registrou 837 novos casos e cinco mortes decorrentes da doença, o que coloca o município entre os seis com maior número de casos da doença no Sul de Minas Gerais. Apesar disso, não conhecemos quais são as variantes que estão sendo responsáveis por este aumento de casos, internações e óbitos, em nossa cidade.

A Rede de Alerta das Variantes do SARS-CoV-2, coordenada pelo Instituto Butantan, registrou em São Paulo, entre os dias 7 e 13 de maio de 2022 as variantes BA.4 e BA.5, sublinhagens da Ômicron surgidas na África do Sul, respectivamente em janeiro de fevereiro de 2022. Essas variantes prenominaram na Europa nos últimos dois meses e foram responsáveis pelo aumento de casos e hospitalizações.

Nossa experiência no NUPEB mostra que o cenário que ocorre na Europa se repete no Brasil, com um atraso de um a dois meses. E isso parece novamente se repetir, uma vez que os dados nacionas apontam para um aumento dessas novas sublinhagens que atualmente estão presentes em pelo menos 198 municípios de 12 Estados e no Distrito Federal. Estas duas variantes têm ganhado destaque no percetual de amostras sequenciadas.

De acordo com dados do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), o percentual destas duas variantes passou de 10,4% para 44% do total de amostras sequenciadas e analisadas. Há que se considerar que ainda sequenciamos muito pouco, em termos de Brasil. Em Lavras, por exemplo, embora a equipe do NUPEB tenha a capacidade técnica e operacional para executar o sequenciamento e fornecer dados para o município e para o estado, a limitação no que tange à manutenção de recursos de projetos de pesquisa faz com que fiquemos no escuro em relação às variantes circulantes.

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a BA.4 e a BA.5 carregam mutação que parece estar relacionada a maior transmissibilidade e escape imunológico (vacinal e por infecção natural). Para evitar um possível aumento do número de casos de hospitalizações e óbitos é necessário aumentar a cobertura vacinal, incluíndo as doses de reforço e pediátricas, além do uso de máscaras em locais fechados. Embora a vacinação não seja garantia de não infecção, ela tem sido fundamental na redução do número de casos graves. Além disso, os óbitos e as internações em UTI acontecem 20 vezes mais em indivíduos não vacinados ou com vacinação incompleta, o que reforça a necessidade de esquema vacinal completo.

O Brasil registrou 56.491 novos casos de COVID-19 nesta sexta-feira, 10. A média móvel de testes positivos, ficou em 39.980, o que representa um aumento de mais de 70% em relação à de duas semanas. Foram 170 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 668.074 óbitos desde o início da pandemia no país. Os dados são da Johns Hopkins University e se assemelham aos do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Sete estados não divulgaram os dados da pandemia neste sábado,11. Ainda é importante pontuar que vivemos um momento de subnotificação, em função dos autotestes e também problemas relacionados à divulgação pelos Estados.

O avanço de casos e das sublinhagens ocorre em um momento crítico, no qual verificamos uma estagnação das taxas de vacinação associada à diminuição das temperaturas, que faz com as pessoas fiquem mais aglomeradas em ambientes mais fechados. Além disso, a circulação de outros vírus respiratórios acaba por confundir o diagnóstico, se os testes confirmatórios não estiverem disponíveis.

O aumento no número de casos de COVID-19 acende um alerta em relação aos grupos de risco, idosos e não vacinados. Cada vez que surge uma nova variante, aumenta a preocupação e parece que voltamos à estaca zero.

 

Frente ao crescente número de casos destas duas novas variantes, qual a melhor estratégia para nos mantermos seguros?

A resposta é testar, manter os ambientes arejados, usar máscaras em ambientes de maior risco (maior concentração de pessoas), vacinar, estimular as doses de reforço em especial nos grupos de maior risco (idosos > 65 anos). Além disso, novas esperanças têm surgido como por exemplo a vacina através de spray nasal, atualizações das vacinas para as novas variantes e medicações orais. Evitar as infecções e reinfecções tem se tornado importante também para prevenirmos a COVID Longa, que impacta a vida de muitas pessoas com sintomas que podem durar meses. Esse é mais um motivo para tentarmos evitar as infecções. Por fim, é essencial continuarmos executando pesquisas biológicas e de saúde pública para responder às muitas perguntas restantes. Sequenciar é essencial para entendermos a doença e definirmos as melhores estratégias de controle.
O sequenciamento de amostras positivas e a vigilância genômica são essenciais para entendermos a doença e definirmos as melhores estratégias de monitoramento, prevenção e controle da COVID-19 .
JOSÉ CHEREM & JOZIANA BARÇANTE

Fonte:

https://coronavirus.jhu.edu/
https://butantan.gov.br/
https://www.ecdc.europa.eu/en/news-events/epidemiological-update-sars-cov-2-omicron-sub-lineages-ba4-and-ba5
https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,sublinhagens-da-omicron-estao-por-tras-de-alta-de-casos-da-covid-no-brasil,70004090334
https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2022.05.21.492554v1

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