V-África, não os perdoe, porque eles sabem o que fazem… (Quinta parte, inédita)
Naquela semana de encontros, em 21/9/2007, firmou-se um“Protocolo de Intenções de Parceria“. Aquele evento histórico deu formato oficial para a construção de parceria participativa institucional, sob minha coordenação geral.
Em março de 2008, visitei a ULPGL em Goma e os campis avançados de Butembo e Bukavu, todos North Kivu da RDC. Durante aquela semana de visitas, foram identificadas e discutidas as primeiras informações para as futuras propostas de estabelecimento do “Programa de Mútua Cooperação Participativa”.
Ao visitar a Embaixada Brasileira em Kinshasa, conseguiu inserir o “Projeto Vozes da África” na “Agenda da Visita de Prospecção” que a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério de Relações Exteriores do Brasil (ABC/MRE) promoveria na RDC, em fevereiro de 2011.
Aquela ação oportuna provocou o convite da ABC/MRE a mim, para participar daquele evento, juntamente com o professor Karafuli. Durante o evento, nós assinamos, em 25/2/2011, como futuros parceiros executores, juntamente com a ABC/MRE, o “Proces-verbal des Travaux entre les Experts de L´Agence Brasilienne de Cooperation et les Experts Congolais”.
Melissa Sendic entendeu os dignos propósitos do projeto Vozes da África e como um anjo-da-guarda tutelar, redigiu detalhadamente, com grande visão humanística, as propostas encaminhadas à ABC/ MRE, para serem executadas na RDC. À Melissa Sendic homenagem, respeito e gratidão, para sempre, de todos os organizadores e principalmente, os beneficiados pelo projeto.
Assim, as equipes da ULPGL, UFLA e Kinshasa ficaram permanentemente interligadas, formando um grande grupo de trabalho, nas áreas de Agroecologia, Agricultura Familiar e Extensão Universitária Inovadora, que continuou denominado “Projeto Vozes da África”.
Graças a essas propostas de execução, foi possível capacitar na UFLA/Brasil, com apoio da ABC/MRE, 60 professores e técnicos congoleses em Agroecologia, Agricultura Familiar e Extensão Universitária Inovadora.
Foram quatro turmas de 15 participantes cada uma, no período de outubro de 2011 a abril de 2013. 30 foram oriundos da ULPGL e 30 de Kinshasa.
Em seguida,três professores da ULPGL foram recebidos pela UFLA para participarem de seu programa de mestrado. Um deles continuou os estudos de pós-graduação em nível de doutorado, na própria UFLA. Todos já retornaram à RDC.
Em novembro de 2013, voltei à RDC e, em visitas presenciais para avaliação de resultados, atestei emocionado o sucesso das capacitações e o sucesso do projeto nas várias áreas da Agroecologia, bem como os resultados expressivos de produção de alimentos básicos e fundamentais, em regiões de tantos conflitos armados, constantes, crueis e sangrentos.
No início, A ULPG foi a única parceira.
Depois da conexão com a ABC/MRE, juntaram-se a nós:
O “Ministério da Agricultura da RDC“, tendo como representante legal o Eng. Omar Babene.
Em seguida, o “INERA (Institut National pour l’Etude et la Recherche Agronomiques)”, tendo como focal-point o pesquisador professor Thomas Mondjalis Poto, capacitado na UFLA em 2012, e a “ONG-Solidariedade Feminina”, da cidade de Kindu, da província de Maniema, presidida pela fundadora Mme. Nathalie Kapunga.
Em agosto de 2018, sob o patrocínio da ABC/MRE, os senhores Omar Babene (MA), Thomas Mondjalis Poto (INERA) e Kakule Molo (ULPGL), juntamente com a senhora Nathalie Kapunga (ONG-SF), vieram à UFLA para a exposição de resultados e planejamento de novas etapas Neste evento, o IF Sul de Minas foi aceito como parceiro do projeto.
E após, todas estas consideraçãoes, creio que está na hora de relatar as incríveis experiências vivenciadas durante minha primeira visita à RDC
A primeira experiência inesquecível, foi quando levaram-me para o hotel onde deveria ficar hospedado. O funcionário porteiro abriu o portão de entrada do hotel , empunhando uma metralhadora e portando um pente de balas no formato de correia, enrolado no peito. Meu Deus!!!
Ele olhou fixamente para mim, e bradou:-pode entrar…
Brrrr…que recepção…que alívio…
Na verdade, as populações locais até que anseiam pela paz, mas os grupos armados rebeldes, verdadeiras organizações paramilitares extremamente cruéis, financiados sorrateiramente por quem arrota paz, quando está hipocritamente sentadinho num certo conselho de segurança, impedem qualquer tipo de pacificação. Basta conferir a origem dos armamentos capturados e/ou abandonados, nas escaramuças dioturnas da região.
Como isso tudo contribui significativamente para o aumento da fome, miséria, desemprego, êxodo rural, pobreza e violência nas populações locais, infelizmente, volto a repetir, o conflito está próxima de explodir novamente, e muito mais brutal.
Mas eu estava lá para divulgar, aplicar e desenvolver, os propósitos do “Projeto Vozes da África”, ou seja:
“Promover a paz através da produção de alimentos”.
Foi quando, durante um seminário de avaliações dos avanços do projeto, eu ouvi a seguinte declaração de um congolês:
“Todos que vem aqui promovem a guerra, somente o Prof. Gilmar trouxe a paz”.
Então escrevi:
“Um país só poderá ser forte, poderoso, independente e soberano, se e somente se, ele produzir o seu próprio alimento e não depender de outros para alimentar-se”. Prof. Gilmar Tavares.
Continuaremos na próxima semana. Não percam.
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