Núcleo de estudos da UFLA une engenharias e saúde em projetos para a reabilitação humana
Mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo convivem com alguma forma de deficiência. Estudos apontam que a incidência desse número pode aumentar, já que tem ocorrido o envelhecimento da população global e isso eleva o risco para as pessoas de mais idade

A demanda por serviços de reabilitação de saúde apresentou grande crescimento na última década, impulsionando pesquisas e estudos voltados para essa necessidade urgente. Por isso, em 2016, surgiu na UFLA o Núcleo de estudos de Biomecânica Aplicada à Reabilitação Humana (Bearh) que, por meio da ciência, desenvolve tecnologias para auxiliar na recuperação das pessoas que possuem algum tipo de deficiência.
“Trabalhamos em prol da saúde e um dos nossos diferenciais é o desenvolvimento de tecnologias de alta aplicação às camadas sociais mais necessitadas, e que nem sempre têm acesso a elas. O trabalho visa à acessibilidade, à inclusão social e à reintegração, pois sabemos o quanto é difícil levar, de forma ampla, a reabilitação para toda a população. Por isso, nossas pesquisas buscam desenvolver equipamentos com baixo custo, para que possam chegar à sociedade de forma mais igualitária”, explica o coordenador do Núcleo e professor do Departamento de Engenharia (DEG) Sandro Pereira da Silva.
Em todo o mundo, as pessoas com algum tipo de deficiência apresentam perspectivas reduzidas de saúde, escolaridade, participação econômica menor, e taxas de pobreza mais elevadas em comparação às pessoas sem deficiência. Em parte, isso se deve ao fato de elas enfrentarem barreiras no acesso a serviços básicos como saúde, educação, emprego, transporte, entre outros. “O fator primordial que influenciou e levou à fundação do Núcleo, que se dedica de forma filantrópica à produção de conhecimento e tecnologia para construção de sistemas inteligentes destinados à adaptação e acessibilidade humana, foi uma pesquisa de campo que constatou a grande dificuldade que a sociedade possui para ter acesso a equipamentos eficientes para reabilitação humana”, comenta a professora Joelma Rezende Durão Pereira (DEG), vice-coordenadora do Bearh.
Reabilitação é um processo educativo e assistencial, multiprofissional, que busca o desenvolvimento das capacidades existentes, prevenindo o agravamento e o aparecimento de complicações. De acordo com Sandro, “a ciência alinhada à tecnologia é de fundamental importância para a saúde, pois, por meio dela, conseguimos adaptar, desenvolver equipamentos e métodos de trabalho para que promovam uma eficaz e melhor qualidade de vida. Isso só é possível pela interdisciplinaridade bem operada na UFLA entre as ciências de saúde e exatas”.
Conheça alguns projetos desenvolvidos pelo Bearh
O aparelho proporciona uma reabilitação de 50% a 80% mais rápida que os métodos convencionais utilizados na fisioterapia, pois conta com programação em LabView, software de programação virtual com resposta rápida e perfeitamente aplicável em multiníveis, além de computador para operação da interface homem / máquina e vários sensores de ponta, para controlar tipo de pegada nos pés, ângulo de articulação dos joelhos e carga quase em tempo real sob os membros inferiores, que geram maior autonomia para o profissional de saúde na hora da escolha da carga ideal para o paciente e do tipo de protocolo médico de reabilitação a ser aplicado, considerando-se as especificidades do caso de cada paciente.
Esse equipamento foi desenvolvido em 2018 e, embora existam outros equipamentos de içamento humano no mercado, o conceito de automatizar de forma inteligente e torná-lo acoplável em basicamente qualquer tipo de esteira é o grande diferencial. Sua patente já foi deferida, e o projeto do equipamento está disponível para transferência de tecnologia.
Desenvolvida em 2019, a órtese de tornozelo se torna inédita pelo fato de copiar os movimentos do lado não afetado e replicá-los, com auxílio eletromecânico, ao lado comprometido. Possui grande parte de seus componentes fabricada em impressão 3D. Sua patente já foi deferida, e o projeto também está disponível para desenvolver parcerias com empresas.
Projeto em desenvolvimento
A equipe Bearh
O Núcleo de Estudos de Biomecânica Aplicada à Reabilitação Humana está localizado na sala de processos de fabricação no prédio ABI-Engenharias e tem sua estrutura organizacional dividida em três setores: orientadores (professores que direcionam e instruem o desenvolvimento das pesquisas); coordenadores e diretores das áreas de mecânica, elétrica, programação, gerenciamento, marketing e gestão. Ao todo, a equipe é composta por nove pessoas, sendo elas os professores Sandro Pereira da Silva e Joelma Rezende Durão Pereira, do Departamento de Engenharia (DEG/UFLA), e os estudantes Wyllen Lima, Fernando Oliveira, Felipe Lucas, Gabriel Aliende, Giovanna Valente, Luana Melo e Karolina Neto.
O núcleo Bearh no combate à Covid-19
O Núcleo, por meio de uma rede de apoio mútuo e parcerias entre diversos setores da sociedade, departamentos da UFLA, professores e estudantes, realizou ações para contribuir no enfrentamento à Covid-19, com inovações que buscam auxiliar os profissionais na linha de frente de combate à pandemia. Entre elas, estão as ações abaixo (clique nos links para saber mais).
Automação do Sistema Transitório de Respiração Mecânico “Ambu”
Sistema de isolamento e transporte de pacientes positivos para Covid-19
Outros contribuições de pesquisadores no combate à Covid-19
A UFLA tem trabalhado, por meio de seus pesquisadores, para levar à sociedade equipamentos que sejam úteis e que auxiliem de forma efetiva no combate à pandemia de Covid-19. Além dos dispositivos produzidos pelo Núcleo Bearh, a Empresa Júnior de Engenharia Mecânica, Torque Jr., com o auxílio do coordenador do curso de Engenharia Física, professor Jefferson Esquina Tsuchida, do Departamento de Física (DFI), e do professor do Departamento de Ciências da Saúde (DSA) Hélio Haddad Filho, desenvolveu um adaptador para converter máscaras de mergulho em máscaras para respiradores mecânicos. O projeto beneficia não só os profissionais da saúde que estão atuando na linha de frente, como também leva maior comodidade aos pacientes infectados pelo coronavírus.
Desenvolvido a partir de uma ideia que surgiu na Itália, o adaptador une a máscara, que é extremamente vedada, ao ventilador hospitalar mecânico, e impede que as partículas respiratórias do paciente sejam expelidas para o ambiente e contaminem o entorno. Além de todos os benefícios para a contenção e proteção contra a Covid-19, a adaptação gera grande economia, já que a máscara hospitalar de face inteira é comercializada por preços entre 1,5 mil e 2 mil reais, e o modelo da UFLA pode ser produzido a um custo aproximado de 400 reais. Os kits de máscaras produzidos na UFLA, com o apoio da Prefeitura de Lavras e da Unimed Lavras, foram repassados a unidades hospitalares da cidade.
Texto original escrito por Caroline Batista e Éder Spuri: confira na edição 5 da Revista Ciência em Prosa, páginas 32 a 37.
Adaptações: Claudinei Rezende da Silva.
Edição do vídeo: Vinícius Moraes.